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29/05/2018 00:00:00 ESPIRITUALIDADE, SAÚDE FÍSICA E EMOCIONAL

Autor: Jorge Trevisol¹

 

Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive” (Ricardo Reis).

 

Somos uma inteireza única. Saúde é o ser fluindo inteiramente. A inteireza tem sua origem no começo de tudo, onde o Todo é o fundamento e o organizador de todas as formas de vida que existe. Ao mesmo tempo, todas as vidas são partes do Todo e o Todo está representado nelas como um todo de forma perfeitamente holográfica. Consequentemente, tudo aquilo que não estiver sadiamente relacionado ou conectado ao Todo, poderá estar doente.

Foram os monges das mais diferentes e antigas tradições sapienciais que primeiro nos mostraram que tudo é Um e que cada um pertence ao Único Todo. Meditando eles experimentavam essa unidade no próprio ser e aprendiam a ver tudo a partir da totalidade relacionando tudo ao Grande Todo e propunham um estilo de vida a partir dessa unidade vivendo em profunda comunhão cósmica e universal.

Mas a humanidade precisa fazer a experiência da dualidade. Tornar-se humano e ter de individualizar-se. Somos originalmente divinos, oceânicos e onipresentes enquanto pertencemos ao mundo da Pura Essência. Mas, na medida em que em um determinado momento, e em algum lugar de nossa profunda consciência aceitamos tornar-nos humanos, também aceitamos o desafio de existir no mundo da dualidade. Sim, um desafio, pois a dualidade sugere separação, luta, dor, ansiedade, que no fim se torna medo de se perder ou de morrer.

No entanto, é essa tensão entre o Todo e a Parte que se forja o substancial humano. Pois, o ser humano não se nasce, se torna. É na medida em que entramos nessa dialética da existência, que construímos o que é essencialmente humano. Teilhard de Chardin chamou isso de processo de hominização. Porque, é próprio do processo evolutivo passar pelas diferentes fases através da dor. Onde não houver um certo desconforto não acontece a passagem.

A grande questão está no “como” tudo isso é vivido. Quando não houver consciência desse processo, que no começo é uma dor necessária e transformadora, aos poucos vai se tornando fonte de sofrimento e de angústia. Consequentemente, ao invés de ser um caminho de evolução se torna objeto de estagnação e de doença.

Aonde poderia estar então, a origem da frustração, do desencantamento da vida e, enfim, da doença? Provavelmente na negação, no “esquecimento” e na própria repressão da noção original de pertencimento ao Grande Todo, resultando, assim, numa forte identificação com a parte, sem o Todo. Por que, então, a doença? Pois, a parte sem o Todo se torna ilusoriamente o todo de si mesma, e por ser parte, e, portanto, limitada, a experiência básica é aquela da insuficiência, da escassez, do efêmero e, assim sendo, da possibilidade eminente de fracassar ou morrer sem ter aonde retornar.

A pergunta final poderia ser: quais seriam, então, as possíveis vias de saída? Voltar ao começo! Isto é, renascer! “Como pode alguém já velho nascer de novo?”, perguntou Nicodemos a Jesus. A isso Ele respondeu: “Há que se nascer pela água e pelo espírito”. Ou seja, renascer através das emoções e das motivações espirituais. Quando alguém adoece fisicamente, já adoeceu emocionalmente diante de fatos da vida que não compreendeu existencialmente. Então, a saúde ou a doença começam no âmbito através do qual se confere significado ao que é vivido (no espiritual), passando pelo que se sente diante do que está sendo vivido (no emocional), e se materializa fisicamente segundo o que está sendo experimentado (no corporal). Em outras palavras, somente quando tomarmos consciência da inteireza do ser é que teremos mais saúde e mais alegria de viver.

Qual poderia ser o caminho mais prático para alcançar essa meta?  Inicialmente, é preciso ampliar a visão.  É necessário ver para além do que se vê. Sair do horizonte pequeno que controla racionalmente, para poder ver a partir do Todo que se mostra gratuitamente. E, então, aos poucos brotará um caráter interpretativo do ser no lugar do frio juízo racional, que conduzirá ao dom do aprender. Conferindo sentido a partir da inteira relação de tudo com o Todo, o fruto maior será aquele da feliz percepção da sincronicidade de tudo.

Quando isso acontecer muitas coisas se resolverão: a diminui o medo da fragmentação e da morte, aumenta o senso de pertença, aparece mais visivelmente o propósito de tudo, cresce o senso de estar no lugar certo e cumprindo o verdadeiro propósito e, consequentemente, vai se instalando um senso de paz interior e de felicidade profunda. Naturalmente, as emoções se tornam positivas, e os sistemas neuronal e celular vão reproduzir aquilo que estão captando dos campos emocional e do espiritual.

Por fim, há que se trabalhar muito pessoalmente em autoconhecimento para desmanchar as tramas, os padrões inconscientes, inclusive e principalmente, aqueles provenientes de nossos ancestrais que perpetuaram certos complexos de percepção da realidade a partir das feridas e do sofrimento, ao invés das experiências centradas no amor. 

 

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¹ Formado em filosofia, teologia e psicologia. Tem mestrados em psicologia e em espiritualidade pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma – Itália. É doutor em Educação pela PUC de Porto Alegre. É psicoterapeuta, palestrante, escritor, cantor e compositor. Pela Paulinas escreveu Amor, mística e angústia (2000); O reencantamento humano (2003); Educação Transpessoal (2008),e pela Maneco Editora publicou O despertar da Atenção (2006) e Segredos da Interioridade (2008); pela Editora Gênese editou Labirintos da Alma (2011).Tem três CDs gravados pela Paulinas e um outro independente, com temas ligados à psicologia do profundo e espiritualidade e à visão transpessoal da vida. Professor da Universidade Internacional da Paz na área de Educação e Consciência. Professor na Faculdade Cesf de Farroupilha na área da educação de professores.